segunda-feira, 21 de abril de 2008

confissão diária.

Trapos e essa imundice que você carrega. Se lateja sobre a dor de ser tão feio, e sujo. É ridícula essa sua aparência. Seus atos, pedinte, são a descrição da sua vida. E eu, sentado, acomodado, comendo. Te vejo sobre a reflexão do espelho, a mesma que mostra a lacuna entre nós.

Deixando meus preconceitos para lá, tento te entender. Esquecer dessa miséria que vejo e compreender, de alguma forma, a sua vida. Você não deve ter nascido assim. Essa sua aparência depressiva, que nos impulsiona para o mesmo abismo, não nasceu junto a ti. Esse cabelo, como corte de arrancado, não provém da sua natureza. E esses seus olhos que refletem uma vida tão mal vivida. Não, não era para ser assim.

Vejo que minha análise não faz mais sentido, já sempre eu o traste. E por tudo o que vejo e tudo o que hoje me tornei, procuro achar-me. E esqueço-te na sua mediocridade, na sua realidade; no nosso contraste. E percebo que já não sou capaz de deixar os meu conceitos, os meus ideais.

E termino minha confissão relembrando-me que somos, ainda que seja tão difícil de perceber, humanos. Que o coração bate e a lágrima chora. E que assim Fernando, eu possa encarnar na tua Pessoa e dizer: "Senhor, livra-me de mim". E seja o começo...Do fim.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

segunda-feira, 14 de abril de 2008

pôr da chuva.

Com a barba por fazer, João acordou aos berros escoantes de seu pai. A luz escandecente, irritante e corrosiva o torturava. E cada palavra ecoava em sua cabeça como uma batida de martelo, invencível. O despertador tinha falhado. Aquela porcaria velha já não era tão mais eficiente como há 4 anos atrás.

João, meio tonto, meio sonolento, acordou seguido por ódio. Depois de alguns segundos os ouvidos já estavam começando a sentir os sons e a chuva batia na janela cinza, mostrando como aquela segunda-feira iria de ser. Talvez, por ser segunda, João marcara aquele dia como o último em sua vida, tão trabalhosa.

Esqueceu, pelo prazer. Pelo gozo de não querer, não poder. E por tal, não acordou. Suspirou na cama, no sonho. E o banho, o acordar, o despertar e os berros já não existiam. Então dormiu ao som da chuva de novo, com a barba...Por fazer.

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Perdido. Ponto. Preto. Escuro.

ESTRANHO, SUSPENSE

sangue.ferido.

atrás...Do armário.

domingo, 13 de abril de 2008

óptica.

Maior desejo seria ficar a sós com você. Te perguntar coisas que só de pensar se transformam em medo, em suor descompassado. É coração que bate desfreado, incerto de dar errado. Esse é o meu amor por você.

Na areia, nos dedos, na metáfora, você se escreve, se sente, se compara. E não entende, por mais bonitas que sejam as palavras, que eu te amo. E que é sincero. Pela dor da amargura dos outros, você se sente inconquistável, e não é por não ser bela, mas pelo medo de amar. Pelo receio de me amar.

sábado, 12 de abril de 2008

Nas quintas, em tardes...

Nos BaREs
Há um não diálogo, cotidiano.
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Ô Francisco, venha cá! Me diga...Qual foi o resultado do jogo?

De novo?

...

Ih colega, tá complicado, viu?

sexta-feira, 11 de abril de 2008

à flor da pele.

liberdade, como de dirigir o carro sem ser 'preso': Não tem preço! (até tem)

hoje curioso, menino;
amanhã...Estuprador, homem.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

em juramento.

O problema é que eu juro... Jurei.

terça-feira, 8 de abril de 2008

pedra sobre v.

Foi em um domingo, próximo ao meio dia. O pai a agarrava como sua pedra mais preciosa, os tempos de 'bom gado' já tinham partido, e ele não poderia deixa-la a ver navio, por aí. O sol, quase perpendicular sobre seus pés, contrastava a realidade dura, fértil. Atrás estavam homens, um tanto quanto brancos demonstrando sua original natureza.

A correria estava por toda a região. E sobre o chão estava a terra, branca de susto pelos tiros e granadas. A poeira se espalhara sobre a velocidade do medo, que atordoava aquele povo. O pai já não possuía mais aquele sentimento de terror, o desespero já tinha-lhe agarrado com a mais poderosa fúria.

Sua pedra, a qual ele tanto guardava com a mais sincera afeição, havia rachado. Era mais frágil que o diamante, muito menos resistente. Porém, muito mais valiosa. Agora, tudo estava perdido. Ela o agarrara em seus braços e ele nem a olhava. Branca, não como a terra nem como os homens europeus, amolecia sobre o colo do pai. A falta de força e muito mais de consciência fizeram desta criança mais uma vitima da guerra.

Agora já não havia mais acampamentos médicos, nem tanto os voluntários que pelo suspiro da morte também fugiram. O pai não conseguiu nem ao menos vê-la dar seu último suspiro. Ela, agora sim estava como uma pedra preciosa, branca, intacta, frígida pela vida. E quem sabe, até poderia ter algum valor. Pelo menos estaria, ao menos uma vez, nas estatísticas da mídia estadunidense. E quem não quer estar nessa tão importante posição? Mesmo que branco, mesmo que pedra, mesmo que...Morta.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

sinestesia pessoal.

O filme, preto e branco como deveria ser, era um ilustração da genialidade. Pelo cansaço, o garoto dormiu no sofá preto, e o couro se estendeu grudando em sua pele clara. Quando acordou, irritado, chamou os pais, alegando que já estava atrasado e que o show iria começar.

Não se sabe se seu verdadeiro interesse era ver os amigos antigos, cumprimentar aqueles que não conhecia ou apenas ver aquele lindo espetáculo. O que interessava, no momento, era pegar as chaves, se apresar e correr até o local.

O garoto, chegando lá, se deparou com o susto de não ter o ingresso. Mas, lembrou que os deixou no encosto da porta de seu carro. Voltou correndo, os pegou e entrou, temendo que algo já tivesse iniciado. Felizmente, nada havia ocorrido e até o tempo deu uma vaga para os apertos de mão.

Quando se apagaram as luzes o garoto tentou se concentrar. Daquele dia não passava. Parou. Respirou e fechou os olhos. Pensou nas mais diversas coisas, menos no que deveria ou queria. Depois de alguns cânticos ele começou a sentir indícios de sentido. Não reparou muito bem se era sua imaginação. Naquela hora, apenas sorriu, por dentro.

Ele então ficou ali, estático algumas vezes, espontâneo em outras e sempre pensava o por que de tudo aquilo. Se estava tão longe, como conseguira, ou por que estava tudo tão natural. Lá pela quarta ou quinta canção ele revelou-se. Deu de si tudo, e de tudo se deu. A voz se espalhava naquela multidão e os olhos só enxergavam uma coisa.

O estranho não foi perceber sua naturalidade. O estranho foi sentir aquela chama, mesmo que tímida, surgindo outra vez. Não era de se surpreender o medo de dar tudo errado, pelo ociosidade que o predominou por tanto tempo. Mas aquela tímida chama foi crescendo, e mesmo que pequena, apresenta resquícios de um novo começo.

Esperaremos, juntos, então.